A mídia, muitas vezes, reflete de forma dolorosa as desigualdades que permeiam nossa sociedade. Dois recentes casos de perda lançam uma luz sombria sobre a disparidade midiática entre figuras brancas e ricas, e as vítimas da pobreza. Ao explorar a "perda" sob diferentes contextos, somos lembrados do impacto cruel e da invisibilidade que essa desigualdade acarreta.
No último domingo, todos acompanharam vorazmente o caso de Larissa Manoela, 22 anos, jovem atriz branca e rica, que foi "perdida" por seus pais devido a desavenças financeiras. O caso continua sendo incansavelmente repercutido e milhares de textos e insights a partir dele – inclusive por mim – serão escritos e compartilhados.
No dia anterior, contudo, assistimos – sem tanto alarde – a morte de Eloah, uma criança negra de 5 anos, atingida por uma bala perdida em uma comunidade pobre do Rio de Janeiro. Eloah também foi perdida por seus pais, embora o fato não tenha obtido maior relevância nas mídias, muito mais quando comparado à notícia com za qual disputou atenção.
Casos assim evidenciam como a mídia prioriza uma forma de "perda" em detrimento da outra. O drama da celebridade ganha as manchetes, enquanto a perda do pai de Eloah permanece quase invisível. A disparidade de atenção revela uma triste realidade: o sofrimento das comunidades marginalizadas frequentemente é silenciado, enquanto as histórias das figuras privilegiadas ganham destaque. Nada de novo.
Talvez o mais angustiante seja pensar que serão escritas milhares de páginas ensinando como melhorar noções de planejamento e proteção patrimonial a partir do caso de Larissa Manoela; e, provavelmente, pouquíssimas – talvez nenhuma – ensinando uma criança pobre e negra a não morrer, atingida por uma bala perdida, dentro de sua própria casa.
Eduardo Pires