Em seu livro "A Sociedade Aberta e Seus Inimigos" Karl Popper propõe o que chama “paradoxo da intolerância”: para preservar uma sociedade tolerante e plural, é necessário ser intolerante com a intolerância.
Segundo Popper, se uma sociedade tolerante permitir a livre expressão e disseminação de ideias intolerantes, isso poderia eventualmente levar à destruição da própria tolerância e liberdade que a sociedade valoriza. Ele afirma que, se concedermos tolerância ilimitada àqueles que são intolerantes, eles aproveitarão essa tolerância para espalhar sua intolerância e, eventualmente, suprimir as vozes divergentes e a própria tolerância.
O (novo) episódio de racismo sofrido por Vini Júnior, na Espanha, ilustra bem como a tolerância ao racismo, de fato, é perniciosa e destrutiva. Em outras palavras, tolerar qualquer forma de racismo é simplesmente intolerável.
O racismo é uma forma de intolerância que se baseia na discriminação e na crença na superioridade de certos grupos étnicos em relação a outros. Embora a muitos possa parecer absurdo o conceito, em pleno século XXI, o fato é que episódios como o do final de semana acontecem sistematicamente, e no mundo todo.
A propósito, se um dos maiores, melhores e mais bem pagos jogadores do (bilionário) futebol europeu é tratado com tamanha desumanidade pelo fato de ser preto, como o serão os outros milhões de cidadãos pretos que não tem a mesma visibilidade, tão pouco os recursos e toda rede de apoio de Vini Júnior?
A resposta? Não são sequer tratados. São invisíveis, irrelevantes e desumanizados. Dia após dia, há séculos.
E se você tolera isso, perdoe-me, mas pertencemos a espécies diferentes.
Eduardo Pires