A ocorrência de mais uma trágica, inexplicável e estúpida morte, numa escola de São Paulo, há 2 dias, faz lembrar a sinistra realidade de uma geração que, talvez, não esteja tão distante daquela retratada em "Juventude Transviada”, o clássico filme de 1955, em que James Dean personifica o arquétipo do jovem rebelde, lutando com questões de identidade, pertencimento e desilusão.
No entanto, a rebeldia daqueles jovens, que uma vez foi simbolizada por corridas de carro e jaquetas de couro, foi substituída hoje por uma forma muito mais sinistra e macabra, alimentada e amplificada pelo anonimato e pela cultura da violência nas redes sociais.
Assim como os personagens do filme, muitos jovens estão em guerra com um mundo que sentem que não os entende ou aceita. No entanto, a diferença fundamental é que o campo de batalha agora é virtual, no qual a validação vem na forma de curtidas e visualizações, e as armas podem ser palavras, imagens ou, tragicamente, atos reais de violência transmitidos ou imortalizados online.
As corridas imprudentes da "Juventude Transviada" se transformaram numa busca desesperada por um propósito ou identidade, atraindo jovens para comunidades online que não apenas entendem sua raiva, mas a inflamam. Eles são seduzidos por uma subcultura que glorifica a violência como uma forma de revolta contra as injustiças percebidas - seja o bullying, a alienação social ou uma sociedade que eles acreditam que falhou com eles.
Em um cinismo digno de um filme noir, poderíamos quase ridicularizar a transição de dilemas existenciais resolvidos com confrontos em observatórios e diálogos carregados de angústia para esta era onde o descontentamento dos jovens é comercializado, onde sua raiva é um algoritmo e cada postagem é um grito por ajuda que se perde em um mar de conteúdo digital.
Que tragédia.
Talvez seja hora de reconhecer que nossos "rebeldes" não surgiram do nada; eles são o produto de uma cultura que simultaneamente consome e ignora seu sofrimento, e é imperativo reavaliar nosso papel nisso antes que mais vidas sejam perdidas.
Eduardo Pires