O dicionário define impunidade como “Condição de impune; em que há impunidade; ausência de punição; sem castigo. Que há tolerância ao crime.”
Acontece que tolerar transformou-se no passaporte para a barbárie que há tempos vivemos no Brasil e no mundo, embora para nós – brasileiros – seja muito mais sensível, revoltante e indignante conviver com as nossas próprias atrocidades, ainda que sejamos parte de um todo, de uma cultura que insiste em normalizar guerras, tragédias e todo tipo de desumanidade com as quais nos acostumamos a ficar acostumados.
O acirramento dos discursos políticos-ideológicos que se instalaram mundo afora desde que a primeira grande crise do capitalismo se deu em 2.008 é apenas um degrau a mais da tragédia social que vivemos, não sendo propriamente sua causa. Apesar disso, é essa guerra de narrativas que cria um cerco agonizante e constante a todos nós.
E quanto mais disseminados os discursos de ódio contra um grupo, uma ideia, uma instituição ou uma pessoa, maior o grau de tolerância com relação à barbárie e ao processo inciviilatório que temos experimentado.
Dia desses, li que nossas crenças não produzem a realidade, muito menos definem o universo.
Contudo, tomar como normal a imagem de uma criança indígena desnutrida e não se revoltar com a causa ou a omissão de quem, legalmente, deveria assistir esses povos, meramente porque são eles pertencentes a uma raça, etnia ou mesmo uma ideia pré-concebida de hierarquia social, parece ser mesmo o limite da (des)humanidade.
Como na letra de “Comida”, dos Titãs, “a gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte”. E a saída, definitivamente, é parar de normalizar a tragédia e tolerar o intolerável.